Relato de Caso: Neurofeedback e os Desafios da Vida Cotidiana

Há pelo menos 3 meses venho ensaiando esse post… Porém, envolvida nos afazeres e estresse da vida diária, posterguei, procrastinei e fiz escolhas… as escolhas me trouxeram consequências e essas, por sua vez, me deram ainda mais trabalho do que eu já tinha… e o post foi ficando de lado…

Não que as prioridades tenham sido invertidas: o post podia esperar; porém, algumas vezes, a vida toma contornos inesperados perante os quais a única saída é seguir em frente, lidando com os desafios até que o emaranhado vire um novelo de fios harmoniosamente sobrepostos.

(Autorreflexão da própria autora do blog, psicóloga July Silveira Gomes)

Quem nunca se viu frente a um emaranhado de situações, igualmente importantes e urgentes mas que, se não resolvidas da forma adequada, acabam trazendo resultados desastrosos e, em alguma instância, a sensação de que a vida é uma montanha russa (e que nesse momento ela está na sua parte descendente)?

Bem, esse post é para falar sobre como uma mulher de 30 anos, bem sucedida profissionalmente e independente, chegou até mim à procura do tratamento com neurofeedback com essa sensação. Ela já havia realizado terapia há alguns anos em sua cidade natal, da qual se mudou após a aprovação em um concurso na cidade de São Paulo. Na primeira sessão, todos os sucessos obtidos anteriormente pareciam ter ficado num passado do qual ela falava com saudosismo, como se não tivesse mais energia para ser (ou não soubesse como fazer para voltar a ser) tão batalhadora como antes. Não havia nenhuma crise instalada na sua vida, mas a zona de (des)conforto na qual se encontrava fazia com evitasse novos desafios (profissionais) e mantivesse uma relação afetiva que lhe trazia alguns benefícios secundários, comparados ao estresse emocional, “dor de cabeça” e ciúmes desencadeados.
Seus principais sintomas envolviam questões psico-emocionais (baixa auto-estima, ansiedade e preocupação excessiva), comportamentais (comportamentos compulsivos, especialmente alimentares, procrastinação, dificuldade em eleger prioridades e em organizar o tempo), problemas de sono (dificuldade em iniciar o sono e de acordar descansada/ sem sono restaurador; pesadelo; sonolência durante o dia) e nas relações interpessoais (falta de paciência com os outros). Utilizando escores que variavam de 0-7 (veja legenda antes da tabela), foram elencados 7 sintomas para serem monitorados ao longo do tratamento. A tabela a seguir exibe os escores em 3 momentos do tratamento: início, meio e fim:
Escores:
0= não tive esse sintoma nenhum dia  na última semana;
1= esse sintoma é leve ou raro;
2, 3 e 4 = esse sintoma é moderado;
5, 6 e 7= esse sintoma é severo/ contínuo ou o senti todos os dias na última semana

Início Meio Fim
Sintomas 10 de março 05 de maio 05 de junho
Ansioso 7 4 1
Dificil cair no sono 7 6 1
Dificil acordar descansado 7 3 0
Baixa auto estima 7 2 0
Pressão no peito 7 2 0
Acorda durante sono 7 3 1
Compulsividade 6 2 1

O treinamento foi definido com base nos dados eletrofisiológicos (EEG) e nos sintomas apresentados, sendo estabelecidos protocolos para aumento da perfusão pré-frontal, seguido pelo reforço ao aumento das ondas de 12-15hz na região sensório motora do hemisfério direito (C4, de acordo com o Sistema Internacional de Colocação dos Eletrodos 10-20) e beta no córtex frontal esquerdo (F3, de acordo com o Sistema Internacional de Colocação dos Eletrodos 10-20).
Até a 4ª. Sessão, a paciente apresentava pequenas mudanças, mas parecia relutante em acreditar nos possíveis efeitos de uma terapêutica realizada através de sensores na caixa craniana. Após 15 dias de intervalo em função de uma viagem previamente programada, a paciente retornou ao tratamento otimista, relatando que observara diferenças significativas no seu comportamento, durante a viagem: havia dormido bem todos os dias da viagem (sem precisar usar medicamento para induzir o sono), manteve-se com energia durante o dia (sem cair no sono inapropriadamente) e não sentiu-se incomodada com provocações de outrem (que normalmente a tirariam do sério, deixando-a ansiosa e com compulsividade alimentar).
O treinamento completo foi realizado por 20 sessões, depois das quais a paciente recebeu alta. Ao final do tratamento, a paciente estava confiante o suficiente a ponto de iniciar uma pós graduação stricto senso. Vinte dias após o término, recebi o seguinte depoimento, o qual eu gostaria de compartilhar:
Mesmo tendo apenas 30 anos, um emprego super flexível, casa própria, estabilidade familiar, eu apresentava sintomas de alguém que estava buscando constante e arduamente estabilidade na vida: estresse, insônia, irritação, incapacidade para lidar com os problemas cotidianos. O neurofeedback se apresentou como uma alternativa e, de fato, funcionou. Pude perceber melhoras no meu comportamento e na qualidade do meu sono de forma até muito rápida. Menos ansiedade, mais disposição ao acordar, menos sono em horas inconvenientes e maior adaptabilidade foram meus maiores ganhos“. (Paciente anônima de neurofeedback)
O neurofeedback é um treinamento que visa restaurar o desequilíbrio entre o sistema fisiológico e o psico-emocional. Tem uma gama de aplicações e estudos cada vez maior. Informe-se sobre a técnica e procure um profissional na sua cidade!

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