Relato de Caso: quando a ansiedade afeta o sistema gastro-intestinal.

Em posts anteriores, comentei sobre a ansiedade e o tratamento com neurofeedback (veja aqui) e também a sua relação com o lobo frontal (veja aqui).
O objetivo desse post é exemplificar, a partir de uma intervenção real, como a redução da ansiedade através do neurofeedback pode reduzir os sintomas a ela associados. Um dos indicadores biológicos da ansiedade é a excessiva ativação do sistema simpático, responsável pelo mecanismo de luta ou fuga (leia mais aqui). Ou seja, ele causa aceleração do batimento cardíaco e mobiliza o corpo fisiologicamente para uma reação frente a situação que é subjetivamente percebida como ameaçadora.
Quando essa ativação é excessiva e prolongada, o organismo entra em estado de fadiga e desregulação autonômica, causando diversos sintomas (que podem variar de pessoa para pessoa). No caso desse paciente que irei descrever (e cuja a identidade manterei anônima), as queixas se centravam em desagradáveis sintomas gastro-intestinais, incluindo desconforto e inchaço na região do abdominal e flatulência excessiva, muitas vezes constrangendo o paciente em situações sociais.
O tratamento iniciou com duas avaliaçãoes: dos sintomas percebidos pelo paciente e dos dados eletrofisiológicos do cérebro (EEG). Também foram definidos objetivos que o paciente gostaria de obter ao final do tratamento, e que serviram de indicadores para a alta. Dentre os objetivos, destacam-se: redução na sensação de descontrole gastro-intestinal, redução na ansiedade em situações sociais, aumentar a frequência de atividades sociais e acordar descansado após 8hs de sono. Seu escore na escala de ansiedade de Beck foi 25, indicando ansiedade moderada (quase severa).
Para o treinamento, realizado 2x por semana, definiu-se trabalhar ondas na faixa de beta 1 na região sensório motora, a predominância das ondas alfa e beta no lobo frontal e a cada 4 sessões um treino específico para aumentar as ondas do tipo alfa.
brain

(Fonte: http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=740)

Ao início do tratamento, selecionamos 9 sintomas para monitorarmos ao longo das sessões, pontuando-os de acordo com a seguinte escala:
0= não tive esse sintoma nenhum dia  na ultima semana;
1= Leve/ raro;
2, 3 e 4 = moderado;
5, 6 e 7= severo/ contínuo (ou todos os dias na última semana).
 
É possível observar a evolução dos sintomas ao longo do tratamento na tabela abaixo:
Tabela 1: Sintomas percebidos  pelo paciente ao início, meio e ao final do tratamento.

Sintoma Início Meio Fim 15 dias após o fim
Pensamento acelerado 7 3 2 1
Corpo Tenso (ombros) 7 3 1 1
Trismos / tiques 7 3 1 1
Desconforto na região do estômago 7 6 2 1
Sensação de gases 7 6 2 1
Ansioso 6 4 2 1
Pensamento confuso 6 2 2 1
Dificil acordar descansado 6 4 1 1

 
Após 14 sessões, o paciente teve alta do tratamento, não apresentando mais nenhum dos sintomas que apresentava como queixa princiapl. Os benefícios continuaram evoluindo mesmo após termos encerrado o treinamento com neurofeedback.
O tempo médio de o tratamento é em torno de 30 sessões. Esse foi mais dos dos tantos casos surpreendentes de melhora com o neurofeedback.
Abaixo a opinião do paciente, 2 meses após o fim do tratamento:
“Após algumas semanas de tratamento com o neurofeedback, percebi uma melhora significativa em meus sintomas de ansiedade e stress social, bem como sintomas fisiológicos associados. Aprendi a melhor observar meu comportamento e reações diante de fatores geradores de ansiedade e aprender mecanismos de relaxamento e controle destes sintomas. Sem dúvida é um excelente tratamento”. (Paciente Anônimo)
 

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